sexta-feira, abril 22, 2005

Tal e Qual o Quê?

Tal e qual a mim,
A merda e o odor.
Tal quando te pedi aquele sim
E o não me trouxe a dor.

Tal e qual a ti,
A beleza e a perfeição.
Tal como aquilo que senti,
Quando ouvi aquele não.

Tal e qual um ser humano,
Simples e racional.
Tal quando me fizeste aquele dano
E me senti um anormal.

Tal e qual o meu ser não presta,
Monstro e não bonito.
Tal como aquilo que resta,
O degredo, como te tinha dito.



Tal e qual o quê,
Se já não há comparação?!
Tal como não percebi o porquê,
De teres aberto o meu caixão.

quinta-feira, abril 14, 2005

Acordei num dia como noutro qualquer e comecei-me até a sentir bem...

Acordei num dia como outro qualquer
Mas desta vez tudo tinha a mesma cor
Cedo pensei como ninguém quer
Um objecto que traga a dor.

Separado tão delicadamente
Tudo perto e distante
Como no corpo e na mente,
Por uma parede errante.

Comecei-me até a sentir bem,
Imune de toda a agressão
Nunca pensei é que também
Daquela forma não tivesse protecção

Vivia admirando as silhuetas difusas,
Nunca conseguindo ver tal ser.
Através de visões confusas
Porque me tinha isto de acontecer?

O muro, teve primeiro um aviso,
Distraído sofri uma falha na minha protecção
E, sob a forma de um riso,
Vi uma mão em minha direcção

Desabituado com tal estranha beleza
Foi difícil resistir aquele toque
E logo soube que de certeza,
Não ia querer outro choque.

Porque sou já um acidentado de mim mesmo
Não precisando de que ninguém,
A não ser que queira mesmo,
Vir para esta cova também

terça-feira, abril 05, 2005

Já me esqueci quem sou

Penitência,
Por favor, clemência.
Já me esqueci quem sou
E onde estou.

Quando estou contigo sinto a tua ausência,
E perco a consciência
De quem sou
E onde estou

Quem sou?
O que sou?
Olho no espelho mas não vejo reflexo
Neste meu mundo complexo

Diabo vêm-me tirar as notas da vida
E dá-me um bilhete só de ida
Estou tão farto desta vida,
Tão curta e tão sofrida.

Conversa com o cinzeiro



- Olá. Então?
- Tá tudo!
- Tás atrasado..
- Pois eu sei... desculpa lá. (...) Era um café, sff.
- Se não estivesse à tua espera diria que já te vi passar aqui em frente umas poucas de vezes, era um gajo mesmo parecido contigo.
- Era eu.
- Tu?! Então porque não entravas? Que estavas a fazer?
- Estava a pensar.
- Hã?! Em quê?
- (...)
- Ya, tasse, tu é que sabes.
- (...)
- Já vais acender essa merda?! Vais-me queimar...
- É a tua função, esqueces-te?!
- Pois... E o curso?
- Vou-me safando...
- Pá desculpa lá mas tu não estás bem! O que foi?
- Não é nada.
- Fogo, diz!
- Já sentis-te, ao falar, que não eras tu que falavas?
- Bem... não. Eu também só falo contigo...
- Oh, não estás a perceber. Tipo, já te sentis-te preso, em que outro alguém falava e agia por ti? Em que o teu ser/mente estava dentro doutro alguém e condicionado pelas suas vontades?
- Ei! Ao menos não deites a cinza para o chão! Ya, acho que já li sobre isso em algum lado...
- E depois, sentes-te um nada! Uma marioneta! Percebes? Impotente, acorrentado ao corpo... Queria sair daqui! Já viste o que era um universo só de "mentes"?! Vontades, pesadelos, sonhos, sentimentos... Tudo livre!!
- Pois mas isso não dá, não é?
- (...) Não percebes o que te digo!
- Ei não me queimes! Pára!
- Já está! Antes em ti que no chão.
- Então já vais?!
- (...)
- Foda-se! Xau também para ti!
- (...)