terça-feira, março 21, 2006

Conversa com o homem que anda com a mão na cabeça


- “Para que anda com a mão na cabeça? É para ela não lhe cair?!”
- “Não. Não seja ridiculo!”
- “Então? Não percebo... Você é que está a ser ridiculo.”
- “É só para lhe estar a tocar.”
- “Para quê? Para ver se não saiu do sitio?!”
- “Não. Para não deixar de a sentir. Não me quero esquecer dela.”
- “Mas isso é um absurdo! É mesmo necessário?!”
- “É.”
- “Mas porquê?! Não percebo...!”
- “É necessário para que eu não me esqueça de mim, para que a minha mente sinta e não se afaste do meu corpo.”
- “Está doido!”
- “(...)”
- “Mas afinal o que lhe aconteceria se tirasse a mão da cabeça?”
- “A minha mente se confundiria com o meu corpo e apoderar-se-ia dele. Deixaria de existir, no fundo.”
- “Por favor... Não seja tão catastrófico! Na verdade ficaria era sem saber onde pôr essa mão e o que fazer com ela... À quanto tempo anda nisso?”
- “Desde que me conheço.”
- “Ah! E quando foi isso?”
- “Quando pus pela primeira vez a mão na cabeça...”
- “Pois... isso deve ter sido à muito tempo!... Olhe eu acho que você devia procurar ajuda.”
- “Não. Não preciso de ajuda. É só a minha forma de sobreviver.”
- “Óh homem ganhe juizo! Você acredita mesmo nisso?!”
- “Experimente.”
- “Para quê? Não delire.”
- “Experimente.”
- “Se isso lhe servir como prova de que nada mudará em mim, eu faço-o... Veja!... Vê?”
- “(...)”
- “O que me está a acontecer? Ajude-me por favor...”

sexta-feira, março 10, 2006

Tentando pretender

Tentando pretender que acredito.
Qual a crença?

Tentando pretender que sinto.
Qual sentimento?

Tentando pretender ser verdade.
Qual verdade?

Lista da Morte


Terei feito o erro fatal?
Aquele, o da outra vez?

Que caminho seguir?
Que liberdade procurar?
Que hora esperar?
Que verdade alcançar?
Que questão colocar?
Que realidade acreditar?
Que corpo sentir?
Que vontade de ir...
E que força mas tão inconsciente!
Que sentimento tão presente!
Que estranha esta mente!
Que dor que mata levemente!
Com tremor, certamente...

Estranhos caminhos
Pela lista da morte
Um olhar perdido
Esquecido neste espaço

Como tudo se passa devagar
Nesta realidade inexistencial
Em calma e apatia
Por entre o meu objecto carnal

quarta-feira, março 01, 2006

Não Percebo Nada desta Merda

Não percebo!
Sinto o meu corpo mas..
Não há movimento!
Tento-me mexer mas...
Só sinto sofrimento!

Não percebo
Olho para este quarto e...
Não me diz nada!
Mesmo olhando para mim...
O meu corpo não me diz nada!

Não percebo
Nascer com missão para a solidão...
Não há direito!
Para quê então nascer com um coração?
Tirem-mo já deste peito!

Não percebo
Não sinto os passos no meu andar...
Acho que vou cair sem querer!
Estarei a morrer...
Ou a flutuar?!

Não Percebo Nada desta Merda

Eu "nunca me disse"

Eu nunca me disse
Aquilo que me queria dizer
Sempre tive dificuldades em falar comigo
Não era agora que ia acontecer

Mas, quem fala afinal?
Quantos falam afinal?
À que organizar isto, pá!
Se não ocorre um grande mal!

Digo-me em voz serena,
Tem calma, apazigua
E agarro uma mão à outra
Às vezes com força! Para dar sentimento à coisa (!)

Eu nunca me disse
Para esperar por mim
Sempre fui até um atrasado
Porque não agora ser antecipado
E antecipar meu fim?

Já que,
Eu nunca me disse
Para me dizer
Que até gosto de mim